Analisando Dilma como líder de um país podemos identificar falhas que levarão a sua deposição. Procuro me limitar à analise, sem me posicionar, me inspirando no método sociológico, onde o objetivo é entender a interação e a sociedade ,e não julgar se aquilo é certo ou errado.

Na vida pública, a pessoa precisa ter competência e carisma, não ter essas duas habilidades fará com os outros contestem o seu cargo, assim como ocorre em uma empresa.

Competência

Mesmo tendo o poder, a “Dominação Legal” (ou seja, dominar pelo cargo que você tem, não levando em conta a pessoa em si, mas sim a regra que diz que ela, pela hierarquia, tem poder, como explica Weber), se você não domina os conhecimentos necessários para o seu cargo, outros te desafiarão, pois não reconhecem, não legitimam esse poder, não acham que você é merecedor dele, e assim, deixarão de seguir suas ordens.

Carisma

O carisma é quando as pessoas têm certo carinho, quando se consegue uma simpatia que desperta a aprovação do líder. Se a pessoa negligencia gerar carisma, as pessoas deixam de admira-la e isso gera um afastamento, as pessoas deixam de se importar com aquela pessoa.

Dilma adotou uma linha onde se isolava e sua competência era, também, contestada e o povo não achava provas contra a alegação de incompetência. Ela detinha o título de Presidente, assim, possuía autoridade por conta de seu cargo, mas, se seus subordinados não acreditam que ela seja competente, passam a contestar esse poder e acabam por se negarem a segui-la. Deixando de criar carisma, ela perde importância, não dando mais razão para ser defendida pela população ou antigos aliados.

Essas duas dimensões ainda se uniram com outras, como:

Crise

A economia é movida por pessoas e, se essas pessoas não sentem que podem haver melhoras e ficam pessimistas, isso se reflete na economia. A economia é espelho da expectativa daqueles que a movem.

A crise criou um ambiente frágil, de incerteza e turbulento, o que colocou a prova as habilidades de Dilma, como não houve sinais de melhoras, isso gerou um pessimismo, ocorrendo a desaceleração da mesma levando a um maior nível de desaprovação.

Oposição

Sofrendo forte oposição tanto de políticos quanto da população, ela focou ainda mais o seu governo em um público (ao mesmo tempo que ela faz cortes na educação e saúde, lança outra etapa do “minha casa, minha vida”, trocando o todo por uma parcela), restringiu a sua abrangência, ou seja, deixou de cuidar de uma parte da população, só criando uma oposição ainda mais forte.

Quando o povo se divide quase que igualmente entre duas ideias, não pode haver a escolha por um grupo, isso só enfraquece o seu governo, pois gera maior oposição pelo fato de a outra parcela não se sentir representada e saber q tem força para lutar e Dilma se concentrou em um grupo.

Essas questões (e talvez outras que não mencionei) foram moldando um ambiente que tem abertura para a sua retirada do governo.

O impeachment

O impeachment é previsto por lei e está seguindo o cronograma formal, não sendo caracterizado como um golpe por si só. Não é ilegal contestar ou investigar, mas, se uma manobra dessas é usada de modo a articular a retirada do político de forma injusta e manipulando a população (para que apoiem e não contestem as decisões), pode sim se caracterizar como um.

Não há uma igualdade na exposição à população dos argumentos contrários e favoráveis ao impedimento, ou seja, há uma injustiça no quesito de defesa do mandato, já que é mostrado por mais tempo os argumentos favoráveis, o que limita as chances da Presidente de conseguir provar que é inocente para o povo e conseguir apoio, é uma luta desigual.

O problema da destituição e seu processo está no modo que ocorre. Uma medida de tão grande importância como está, deveria ser tomada pela população. O povo a colocou lá, o povo que julgue se quer ou não que ela continue.

Hoje, não há como ocorrer um processo cem por cento justo pelo fato de que ou a decisão é delegada aos representantes do povo, que têm seus próprios intere$$e$, interesses que não coincidem com o do povo, em sua alarmante maioria; ou a decisão é delegada ao povo, que, por ainda não ter participação ativa na política, não terá como escolher sem ser influenciado, formando sua própria opinião, além de as pessoas não julgarem levando em conta somente o crime em si, mas a postura, competência, vantagens que teriam e etc. (https://itsamejude.wordpress.com/2016/04/21/119/ explico essa dinâmica da punição nesse post)

(Estou generalizando, tendo em vista a população como um todo)

 

Combate à corrupção

O que eu acho que torna esse processo duvidoso é o fato de que as investigações sobre corrupção estão em segundo plano agora, podendo ocorrem seu acobertamento. É possivel notar a saída de cena das matérias sobre esses processos e sempre que algo não é ou deixa de ser conhecido pelo povo, torna-se muito mais fácil aplicar manobras que a população discorda, como parar as averiguações.

“Há um risco real de que uma vez que ela seja cassada, a mídia brasileira não irá mais se focar na corrupção, o interesse público irá se desmanchar, e as novas facções de Brasília no poder estarão hábeis para explorar o apoio da maioria do Congresso para paralisar as investigações e se protegerem. ”

The Guardian http://www.theguardian.com/commentisfree/2016/apr/22/razao-real-que-os-inimigos-de-dilma-rousseff-querem-seu-impeachment

Considerações finais

Sua queda está ocorrendo pela combinação de diversos fatores, independente se o argumento para tira-la seja fraco ou não, ela deixou de ter apoio, pessoas que dessem suporte ao seu mandato, assim, ela perdeu a capacidade de influenciar e está tendo seu poder contestado, o que é legitimo, pessoas podem se opor, mas, que seja uma oposição ao estado atual do Brasil, às falhas e ao crime, e não pela disputa de poder, simplesmente. Que as outras pessoas que quebraram outras regras também sofram as consequências e que o poder conquistado pelo procedimento seja realmente usado para implementar melhorias.